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ORIGEM DA FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Publicada em: 04/06/2025 15:16 - DIAMANTINO NOTICIAS

A Festa do Divino Espírito Santo: Fé, Cultura e Tradição Popular no Brasil

Fonte: Brasiliana Iconográfica — Equipe Brasiliana Iconográfica

A Festa do Divino Espírito Santo é uma das mais antigas e expressivas celebrações do catolicismo popular brasileiro. De origem portuguesa, a comemoração chegou ao Brasil com os colonizadores e, já na primeira metade do século XIX, era considerada uma das festividades religiosas mais importantes do Rio de Janeiro. Tradicionalmente, a festa tem início logo após a Páscoa e atinge seu auge no dia de Pentecostes, 50 dias depois. No entanto, as comemorações podem se estender até o final de junho.

A grandiosidade da celebração e a força de sua expressão popular chamaram a atenção de diversos artistas estrangeiros. Um dos mais relevantes foi o francês Jean-Baptiste Debret, que descreveu as “folias do Divino” — grupos festivos compostos por músicos e devotos que percorriam as ruas recolhendo doações — em sua obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Segundo Debret, no Rio de Janeiro a “Folia do Imperador do Espírito Santo” era formada por jovens meninos tocando instrumentos como violões, tambores, pandeiros e triângulos, todos liderados por um porta-bandeira com um chapéu enfeitado por penas e fitas coloridas.

Os preparativos da festa se iniciavam na Páscoa, quando um mastro simbólico com uma pomba branca no topo — representação do Espírito Santo — era erguido. Um dos momentos centrais da festividade era a coroação do "imperador do Divino", geralmente uma criança de família influente. Debret registrou com detalhes o traje luxuoso do pequeno imperador, que vestia casaco escarlate bordado em ouro, colete de seda branca, espada à cintura, chapéu nos braços e uma placa dourada com uma pomba prateada no peito. Esse cuidado com os trajes também foi destacado por outros artistas, como o inglês Henry Chamberlain.

A bandeira do Divino, estampada com a imagem da pomba, era um dos símbolos mais importantes da folia. Ela era levada para dentro das casas durante as visitas, sendo beijada e reverenciada por todos os presentes — ricos ou pobres, brancos ou negros escravizados. A participação ampla da sociedade, inclusive da população cativa, é uma particularidade da prática da Festa do Divino no Brasil. Para muitos historiadores, essa adesão se explica tanto pela generosa distribuição de esmolas e alimentos quanto pela afinidade simbólica entre elementos da cultura católica e da cultura africana, como o uso de cores (vermelho e brancoe o símbolo do pássaro.

Junto às igrejas, eram construídos os chamados "impérios", locais onde o imperador recebia homenagens, doações e visitas de autoridades. Ali também ocorriam leilões de objetos doados. Debret afirma que a festa existia para “estimular a generosidade dos fiéis caridosos” e que a figura do imperador reforçava a autoridade monárquica e legitimava a proteção aos mais pobres.

Além das coletas e homenagens, as folias anunciavam a programação religiosa com muita música e dança. Os grupos eram frequentemente acompanhados por músicos barbeiros, africanos livres ou escravizados, que tocavam tambores e realizavam batuques pelas ruas. Ao longo do tempo, o caráter sagrado da festa começou a dividir espaço com elementos profanos: barracas de comidas e bebidas, cavalhadas, touradas, congadas e foguetórios passaram a fazer parte da celebração. Já no final do século XIX, padres mais ortodoxos chegaram a considerar a festa como um excesso popular e um desvio de fé.

 

Apesar das transformações, a Festa do Divino Espírito Santo ainda é celebrada com grande fervor em várias cidades brasileiras, como Paraty (RJ), Pirenópolis (GO), Mogi das Cruzes (SPe São Luiz do Paraitinga (SP). Hoje, o evento combina religiosidade e folclore, mantendo vivos símbolos como a bandeira, o mastro e a pomba — elementos que continuam a representar fé, união e identidade cultural para milhares de brasileiros.

 

 

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