Valorizar a cultura em suas diversas formas é manter viva a identidade de um povo. A Prefeitura de Diamantino, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo, em parceria com o Instituto Reviva Diamantino e com apoio da empresa JBS, desenvolve um projeto grandioso de revitalização do centro histórico do município.
Nesta primeira etapa, a antiga Fundação Cultural foi o primeiro espaço a ser entregue à população, no último sábado (16). O local passa a se chamar Casa dos Sabores. Na sequência, também serão revitalizados a Biblioteca Municipal, que se transformará na Casa do Saber; a Casa do Cerrado, onde funcionava o Museu Langsdorff; a Casa dos Viajantes; a Praça Major Caetano Dias, que será totalmente remodelada; e a Casa da Velha Guarda.
O investimento desta etapa soma 25 milhões de reais, fruto da parceria com a JBS, que mantém sua principal planta frigorífica em Diamantino. A empresa gera cerca de 9 mil empregos diretos em Mato Grosso e reforça, assim, seu compromisso com a preservação da cultura e o desenvolvimento social.
Quase três séculos de história
Diamantino, o segundo município mais antigo do Estado de Mato Grosso, completa no próximo dia 18 de setembro 297 anos de fundação. São quase três séculos de cultura e tradição: comidas e danças típicas, casarões de adobe, festas de santo, o linguajar mato-grossense e riquezas imateriais que resistem ao tempo por meio do povo diamantinense.
Entre os maiores símbolos dessa herança estão os casarões, muitos deles com mais de dois séculos, erguidos por mãos escravas e marcados pela arquitetura colonial. Como lembra a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Francyla Bousquet:
“Onde muitos veem apenas uma casa velha, eu vejo uma história. Uma narrativa contada nos materiais usados na construção, nos detalhes da época, nas dificuldades de execução, no esforço coletivo e, principalmente, nas vidas e lembranças de seus moradores.”
Patrimônios que contam histórias:
Entre os bens reconhecidos e preservados, destacam-se
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Casa Canônica (Casa Memorial dos Viajantes), tombada em 2003 pelo IPHAN.
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Igreja Matriz Imaculada Conceição, cuja construção iniciou em 1818 e foi concluída em 1820, tombada pelo Estado de Mato Grosso.
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Museu Langsdorff, que abriga 77 telas vindas da Rússia, retratando a famosa expedição Langsdorff (1821–1829).
Além deles, dezenas de casarões guardam séculos de memória e contam histórias de famílias que ajudaram a construir Diamantino:
Casarão da dona Jesuína Custódio, um dos mais antigos, com aproximadamente 285 anos, localizado na Rua Almirante Batista das Neves. Seus primeiros moradores foram José Rufino (Juca) e sua esposa dona Estelvina Dias.
Casarão da dona Carmem Vieira Dias, com aproximadamente 215 anos, localizado na mesma rua. Construído no século XVIII, ficou historicamente conhecido por ter sido residência oficial do Major Caetano Dias.
Casarão da dona Nirza Barros, com cerca de 205 anos, situado na Travessa dos Parecis. No local residiram dona Nirza e seus filhos, Jair e Valdir Vieira de Barros. Também moraram ali o senhor Eduardo Barros e Afonsinho Vieira de Barros, que estiveram entre os primeiros funcionários da Prefeitura de Diamantino.
Casarão Sebastião Marcelino Régis, com cerca de 215 anos, localizado na Rua Monsenhor Dudreneuf, próximo à Igreja Matriz. Hoje é residência do professor Juari José Regis e sua esposa, Mary Albernaz Regis.
Casarão Mário Ferreira Mendes, com aproximadamente 265 anos, construído no século XVIII na Rua Monsenhor Dudreneuf. Foi residência do desembargador Joaquim Pereira Ferreira Mendes e sua família; também viveram ali dona Catarina Sabo Mendes e, mais tarde, Francisco Ferreira Mendes e sua esposa dona Nildes Mendes, pais do atual prefeito, Francisco Ferreira Mendes Júnior, e do ministro do STF, Gilmar Ferreira Mendes.
Casarão da dona Benedita Santiago de Barros, com quase 295 anos, acompanha o período da fundação do município no século XVIII. Localizado na Rua Marechal Rondon, já foi residência do senhor Fredolino Vieira de Barros. Atualmente, é lar de dona Benedita Vieira de Barros e sua família.
Casarão Auther Moreira Vasconcellos, com cerca de 265 anos, localizado na Rua Almirante Batista das Neves, preserva traços da cultura local desde a fundação de Diamantino.
Casarão Lúcio Rangel (da senhora Isia Vanni Rangel), com aproximadamente 215 anos, situado na Rua Marechal Rondon, nº 207. Nos séculos XVIII e XIX, já foi comércio e escritório do IBGE.
Hospital São João Batista, fundado em 1934 pela Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Localizado na Avenida Municipal, é referência na saúde de Diamantino e região.
Casarão Aida Moreira Falcão, com cerca de 215 anos, localizado na Rua Marechal Rondon. Foi residência do ex-prefeito Benedito Moreira da Silva e de Wilson Falcão Moreira da Silva.
Sindicato Rural de Diamantino, na Rua Almirante Batista das Neves. Conhecido pelos moradores antigos como “Casa dos Bispos”, foi residência do Monsenhor Dudreneuf e, mais tarde, de Dom Alonso Silveira de Melo.
Casarão Maria Lalita, localizado na Rua Almirante Batista das Neves, construído no século XVIII e com aproximadamente 215 anos. Foi residência do senhor Terige Vanni, intendente do município no século XIX.
Casarão Ataíde Manoel Pinto (Seu Nonô), situado na mesma rua, construído no século XVIII. Foi residência do ex-vereador e presidente da Câmara Municipal, além de ter abrigado um dos poucos armazéns (bolicho) da década de 1950.
Casarão Cecília Rodrigues Fontes, com aproximadamente 215 anos, na Travessa Comendador Henrique. Ao longo dos anos, abrigou a família Rodrigues Fontes, incluindo o interventor e vereador Urbano Rodrigues Fontes e sua esposa, dona Ana. Também viveram no local Edeltrudes Alves Teixeira (seu Dê), Leoni Fontes e outros descendentes.
Casarão Fundação Cultural, com cerca de 255 anos, localizado na Rua Marechal Rondon. Já foi residência de Aristino Vieira de Barros e dona Felismina Vieira, servindo como casa de apoio a viajantes. Mais tarde, foi lar de Zequinha e dona Valdomira e, posteriormente, adquirido por Adelino Guarda dos Anjos.
Casarão Terige Vanni (Edith Vieira Vanni), situado na Rua Marechal Rondon, centro da cidade. Construído no século XVIII com paredes de adobe de grande espessura, moldadas com barro das barrancas do Ribeirão do Ouro, é um exemplo da arquitetura tradicional.
Preservar para resistir ao tempo
Com o passar dos anos, os casarões exigiram melhorias estruturais para resistirem às intempéries e continuarem contando a história de Diamantino.
Iniciativas como as da Prefeitura de Diamantino, do Instituto Reviva e da JBS permitem que essa memória se mantenha viva não apenas nas paredes antigas, mas no coração da identidade cultural de todo o povo diamantinense.
Nosso agradecimento especial à Secretaria de Cultura e Turismo de Diamantino, que contribuiu com as pesquisas para esta matéria.